quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Entrevista para o jornal "O Povo"

"Nunca deixei de ser eu"

Composições tão belas quanto ingênuas elevaram Mallu Magalhães, aos 15 anos, ao posto de revelação da música nacional em 2008. Lançando o segundo disco, ela esquece um pouco o folk que a consagrou e aposta na variedade de estilos. A cantora fala com exclusividade ao Buchicho Teen

Por: Alinne R.


No quarto de um hotel em Florianópolis, Mallu Magalhães atende o telefone. ``Oi, Alinne!``, diz, com uma voz baixinha e levemente rouca. Desde a semana passada, quando lançou o segundo disco, a rotina da cantora está uma loucura. Da manhã até a noite, ela dá entrevistas, no fim de semana faz shows e, até ontem, estava na capital catarinense gravando o clipe de Shine Yellow, o primeiro novo single. ``Tem umas cenas de praia, outras que eu canto debaixo d-água. A gente gravou em uma piscina, com umas lonas, uma coisa bem diferente``, adianta, antes de começar a entrevista. Além disso tudo, é namorada dedicada de Marcelo Camelo, ex-vocalista do grupo Los Hermanos.

Mallu Magalhães tem 17 anos. Aos 15, foi uma das grandes revelações do cenário independente brasileiro: colocou músicas no MySpace, chamou a atenção da mídia, conquistou fãs. Aos 16 lançou o álbum de estreia, Mallu Magalhães. O segundo, com o mesmo título, chega exatamente um ano depois, cheio de referências ao amado, nas letras e nos arranjos. Em entrevista por telefone, ela conta um pouco do dia-a-dia de estrela teen e da gravação do disco. Ah! Ela também responde a perguntas de fãs cearenses!

O POVO - O que mais te influenciou na hora de compor para o novo disco?
Mallu Magalhães - No final da feitura do primeiro disco, eu comecei a ouvir muito Nara Leão, e ela acabou se desdobrando em outras muitas influências. Por exemplo, já tinha uma paixão pelo Chico (Buarque), mas não tão febril. Comprei tudo, fui atrás dos discos, e ele foi uma influência pontual e muito determinante. Acabou que eu juntei a minha primeira essência com a minha segunda essência, e deu no disco.

OP - Você sempre conta que compõe muito, várias músicas por dia. Como você fez a escolha do repertório?
Mallu - (Risos) É, realmente eu tenho uma produção bem cheia. Eu produzo muito. Pro disco, tentei juntar as principais composições de cada sensação.

OP - Rolou uma ajuda do Camelo nesse processo? Ele também é um parceiro na música?
Mallu - Também. A influência dele como artista existe muito, porque eu sempre fui muito fã dele. E tem a questão da relação pessoal com ele que me faz compor. Ele fica bem visível nas minhas composições. Mas nunca deixei de ser eu, a influência dele é complementar. Lógico que, quando precisei de ajuda, ele me deu conselhos. É um companheiro, né?

OP - Qual a sua música favorita de Mallu Magalhães?
Mallu - É difícil pra mim, porque eu gosto de todas. Cada uma tem a sua própria característica... Mas Shine Yellow sempre foi muito influente, dá um sentimento leve e feliz pra quem ouve, e isso é legal como cartão de visita. Não tive o pensamento muito de que imagem eu deveria passar ou não. Foi meio natural ela ser o primeiro single.

OP - Seu novo disco foi gravado em dois meses, com a produção do Alexandre Kassin (Los Hermanos, Vanessa da Mata). Como era a rotina no estúdio?
Mallu - O Kassin eu escolhi pela minha admiração por ele, pelo Acabou La Tequila (banda da década de 1990 da qual ele foi integrante), pelo Kassin+2, as produções dele como artista. A gente se deu superbem, virou amigo mesmo. No estúdio, ele sempre contava muitas histórias, e ficava todo mundo papeando, brincando, das nove (horas), até umas 10h30min da noite. Claro que nós parávamos pro almoço e saíamos pra rua pra comer. Era divertido!

OP - Nesse novo disco, você está cantando com a voz mais grave, poupando mais as cordas vocais por causa de um cisto.
Mallu - Ah, a questão de ser mais grave é natural, a gente cresce. Eu tenho, sim, várias complicações nas cordas. Eu tento dar o melhor de mim, mas o ritmo é muito acelerado. Tô numa semana de imprensa, dando entrevista de umas 9 horas até umas 19h30min. Só isso já me deixa meio rouca. Amanhã eu gravo o Altas Horas, então tomara que eu tenha voz.

OP - Depois da sua última aparição no programa (ela cantou com a banda de Wagner Moura) e a repercussão negativa na Internet, dá um medinho de voltar ao Altas Horas?
Mallu - Se a gente for viver só olhando pro que os outros dizem, a gente não vive. Eu pessoalmente não sou muito ``ninja`` em televisão. Eu sei mesmo é compor, desenhar, pintar... Ir na televisão não é meu forte. Mas acho que a gente tá aí pra tentar ser quem a gente é. Só sei que amanhã eu vou lá de novo.

OP - E quando você não está gravando, como é o seu dia-a-dia? Você compõe ou vai pra escola?
Mallu - Eu faço os dois. Quando tenho oportunidade de ir pra escola, eu vou. Mas eu acompanho e complemento minhas notas e minhas faltas pela feitura de trabalhos. Acabo de completar o segundo colegial. Quero completar a escola como prioridade e depois, quando eu tiver vontade, fazer uma faculdade.

OP - Ainda pensa em ser jornalista?
Mallu - Eu morria de vontade, mas fiz um curso livre de jornalismo de moda e desisti. Vi que o jornalismo seria muito limitado em relação à liberdade artística. A própria função do jornalista é tentar retratar o fato como uma realidade, imprimir bem quem é a pessoa, no caso de uma entrevista e tudo mais. Mas a minha escrita é muito livre e pessoal, muito sensível. Eu escrevo de um jeito próprio, e isso não faria sentido num universo jornalístico. Tenho vontade mesmo é de ser cronista, eu acho. Vou me descobrindo aos pouquinhos.

Perguntas dos fãs

Karolina de Melo, 17
``Mallu, mês passado você e o Marcelo (Camelo) se apresentaram na festa da Rolling Stone com um show de vocês dois. Vocês pretendem fazer mais alguns shows com o mesmo setlist para os fãs?``
Mallu - Existe a vontade, porque foi um show fechado, e queremos levar isso a outras pessoas. Mas eu tô muito concentrada na turnê, e ele tá concentrado na composição do novo disco. Então só em um outro momento.

Marília Bastos, 17
``Mallu, em seu primeiro CD, nota-se a predominância de músicas em inglês. Em seu novo álbum, a quantidade de músicas em português aumentou. Você acha que deu pra se acostumar mais com este tipo de composição?``
Mallu - Sim, exatamente! Foi por essa questão de eu ter me tornado mais íntima da música brasileira. E também um movimento de autolibertação, de me superar.

Camila Monte, 19
``Por que os shows no Nordeste são tão raros, se os fãs nordestinos são tão calorosos?``
Mallu - Os shows no Nordeste são caros, o transporte é caro. É difícil hoje em dia se fazer shows e conseguir cobrir os gastos com bilheteria. Mas a gente tenta sempre alcançar o maior número de localidades e, no ano que vem, a gente vai tentar cumprir essa carência. Mas é incrível, é o máximo fazer show no Nordeste!

Iago Sales, 15
``Do que mais você sente falta da vida fora dos holofotes?``
Mallu - (Pausa) Não sinto falta de nada. Não deixo de fazer nada por causa da minha profissão. Faço tudo. Pego metrô, pego ônibus, compro minhas coisinhas, faço os meus cursos, ando por aí. Lógico que existe essa coisa de ir na rua e as pessoas ficarem olhando, mas eu não sou uma pessoa que bota um óculos escuro e sai na rua com aquela cara de ``ó que crueldade, a fama``

Karine Teixeira, 19
``Quando você vai voltar a Fortaleza para fazer um show sozinha?``
Mallu - Eu ainda não sei, né? Não sei se já existe algum convite, algum lugar ou festival. Mas acho que vai começar agora, com esse novo disco. Provavelmente no ano que vem vamos aparecer e brotar em Fortaleza.